Filme “De Menor” retrata situação de adolescentes no sistema penal

Primeiro longa de Caru Alves de Souza traz discussão sobre o julgamento de menores de idade e exclusão

Por Amanda Secco

A cidade de Santos, no litoral paulista, é palco da discussão sobre o tratamento de menores de idade no sistema penal brasileiro em novo filme da paulistana Caru Alves de Souza, que estreia seu primeiro longa-metragem como diretora – o filme entra em circuito no dia 4 de setembro. “De Menor” conta a história de Helena (Rita Batata), uma advogada que atua no Fórum de Santos e defende meninos e adolescentes pobres. Ela mora apenas com seu irmão Caio (Giovanni Gallo), um menor de idade de classe média, que ao cometer um delito, muda a dinâmica da trama.

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A inspiração de Caru para criar o roteiro partiu de experiências reais. Ela conta que tem uma prima que defendia crianças e jovens no Fórum de Santos e que costumava lhe relatar as histórias das audiências. “Esse embate entre duas realidades diferentes foi o que me fez querer fazer o filme”, afirma a diretora.

O processo de criação do roteiro e das filmagens exigiu muito estudo por parte de Caru e dos atores. “Minha grande pesquisa foi dentro do Fórum de Santos, que era a coisa que eu menos conhecia. Fiquei semanas e semanas acompanhando todas as audiências do começo ao fim”, relembra a diretora. Também foram realizadas visitas à Fundação Casa e ao Núcleo de Atendimento Integrado (NAI), onde os jovens infratores são atendidos por psicólogos, assistentes sociais, médicos e outros especialistas. “Eu conversei muito com todo mundo e com os meninos, quando eles estavam no NAI”, conta. O universo do Fórum de Santos foi escolhido por ter um estrutura mais enxuta do que em outras cidades. “Lá em Santos tem só uma Vara da Infância, um juiz, dois promotores, um defensor. Em São Paulo, por exemplo, é um universo muito maior, que não me interessava pro filme”, diz.

Reflexões

Em sua convivência no Fórum, ela conta que o que mais lhe chamou atenção é o fato de que os julgamentos são baseados apenas em depoimentos. “A possibilidade de erro é muito grande. Depoimentos são sempre parciais”, avalia. Outra observação dela é que, embora promotores, defensores e juízes, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), devam ter como preocupação central o cuidado da criança e do adolescente, muitas vezes, a única intenção é acusar e condenar.

Outra percepção de Caru é que os ambientes que visitou mostram uma sociedade racista e classista. “99,99% dos meninos e meninas que vão pra lá são pobres e negros. Eles são julgados e a maioria vai presa. Nem todos os juízes, promotores, defensores levam em consideração a situação social, a situação de abandono da família, do Estado, da escola, do sistema de saúde, de tudo. E que muitas vezes levam os jovens à situação de marginalidade”.

No filme, Caru optou por acrescentar um personagem branco e de classe média, que coloca em xeque a capacidade de juízes e advogados serem imparciais. “É uma quebra de paradigma. Eu quis trazer essa outra situação em que você sai desse ‘torpor’. Porque há um jeito padrão de se lidar com o jovem, pobre, negro. Existe um ‘já sei o que fazer com esse menino, já sei o que está acontecendo na vida dele'”, conta Caru.

Percurso

Antes da estreia em dez cidades brasileiras, que ocorre em 4 de setembro, o longa teve sua primeira exibição na Espanha, no Festival de Cinema de San Sebastian, em 2013. O filme viajou ainda para França e Estados Unidos e por onde passou suscitou debates. “Algumas pessoas falavam ‘mas não é possível que seja assim’”, conta Caru sobre a reação do público estrangeiro ao funcionamento dos julgamentos. Também em 2013, venceu o Festival do Rio, dividindo a primeira posição com o longa-metragem “O Lobo Atrás da Porta”, de Fernando Coimbra. “De Menor” foi produzido pela produtora fundada por Caru Alves e por sua mãe, a cineasta Tata Amaral.

 

 

Fonte: Revista Caros Amigos

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