Famílias uniram-se pela dor no Cemitério Quinta dos Lázaros, a partir das 14h30 do sábado (7), quando foram enterradas seis das 12 vítimas da operação policial comandada pela Rondesp no Cabula, na madrugada de sexta-feira. Dezenas de amigos, vizinhos e parentes estiveram presentes no sepultamento de Natanael de Jesus Costa, 17 anos, Vitor Nascimento, 20, Everson Pereira dos Santos, 26, Caíque Basto dos Santos, 16, Jeferson Rangel e Agenor Vitalino, 19.
Familiares das vítimas disseram que foram ameaçadas no bairro por policiais – que apontaram armas para os ônibus que saíram do fim de linha da Engomadeira para o enterro – e garantiram que havia policiais à paisana no cemitério.
“Eles estão botando medo, enfrentando a gente com armas. Os meninos protegiam a gente. A gente tem medo é da polícia”, disse uma mulher que mora no bairro há 59 anos, pedindo anonimato. “É uma injustiça. Eles têm que pagar. É tudo mentira o que estão dizendo”, bradou uma tia de Natanael que não quis se identificar, ao defender que o confronto alegado pela polícia não existiu.
“Todo mundo gostava do meu filho… Ele era inocente! Agora vou criar os dois irmãos sozinha e trabalhar sozinha, porque era ele quem me ajudava”, lamentava, aos berros, a costureira Marina Lima de Oliveira, 56 anos. Avó de Natanael, ela o criou como filho junto com os dois irmãos.
Ela contou que o garoto ajudava na entrega das costuras, defendeu que era um menino estudioso e que sonhava em ser jogador de futebol, tendo feito até um teste na Espanha para entrar no Barcelona. Um vizinho de Everson reforçou a versão defendida com unanimidade entre os presentes no cemitério de que “não houve troca de tiro”.
“Foi uma execução. Eles se renderam e foram mortos sem defesa. Como foi troca de tiro se os meninos tinham marcas de tortura? Braços quebrados, olhos afundados e tiro na nuca?”, disse.
“Nós só queríamos que a polícia fizesse o papel dela. São despreparados. Nossa comunidade tem pessoas trabalhadoras”, clamou uma tia de Vitor. Em nota, a PM informou que o caso será alvo de uma apuração. “Até o momento, não há indícios de irregularidade cometida pelos policiais militares”, disse a PM, reafirmando que policiais foram recebidos a tiros no local.
DHPP busca testemunhas de confronto no Cabula
O diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Jorge Figueiredo, que investiga as mortes ocorridas no Cabula, informou que pretende concluir o inquérito sobre o caso em até 30 dias, sendo que esse prazo pode ser prorrogado.
“A partir de segunda-feira vamos ouvir policiais que participaram do suporte na operação. Estamos também tentando localizar pessoas que tenham presenciado a ação”, disse. Ele informou que parte dos mortos tem histórico criminal.
Um total de 24 armas foi encaminhado para perícia: 9 usadas pelos policiais (metralhadoras e pistolas) além de outras 16 que foram apreendidas no local (12 revólveres calibre 38, uma pistola ponto 40, uma pistola ponto 45 e uma espingarda).
A Justiça converteu de prisão em flagrante para preventiva as custódias de Arão de Paula Santos, Elenilson Santana da Conceição e Luan Lucas Ferreira de Oliveira, que foram detidos na ação da PM.
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