‘Aquele sangue era meu’, diz mãe que viu filho morto em favela do Rio

Por Alfredo Mergulhão, Folha de S.Paulo

Tinha acabado de descer o morro do Querosene quando ouvi dois tiros. Continuei andando até o mercado para comprar três batatas, uma cenoura e pão, para fazer uma canja para o meu caçula, que estava doente.

Na volta, enquanto subia a escadaria, o pessoal da comunidade começou a dizer que meu filho tinha sido baleado [a polícia ainda não esclareceu sobre de onde partiu a bala; mais cedo, houve confronto entre PMs e traficantes em uma favela vizinha]. Ainda no caminho, soube que era o Carlos Eduardo.

Subi correndo, esbarrando nas pessoas, desesperada para ver se o Dudu ainda estava vivo. Mas, quando cheguei, vi o corpo dele no chão, na porta de casa, tampado por um lençol. Retirei o pano para ver seu rosto. Só que não aguentei olhar. Ele estava morto, muito machucado. Gritei muito, xinguei, fiquei desesperada. Ninguém subiu o morro para socorrer meu filho. Ele nem chegou a ser levado para o hospital.

Doeu demais ver o sangue do meu filho derramado. Aquele sangue era meu.

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A catadora Sheila da Silva fala sobre a morte do filho Carlos Eduardo, baleado em favela do Rio. Foto: Pablo Jacob/ Agência O Globo

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CPI dos Assassinatos de Jovens recomenda fim dos autos de resistência

Por Cristiane Sampaio, Brasil de Fato

O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérico (CPI) do Assassinato de Jovens foi aprovado na tarde desta quarta-feira (8) no Senado. Apresentado pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), relator do tema, o documento recomenda três principais ações a serem tomadas como prioridade. Entre elas, obteve destaque a discussão sobre o fim dos chamados “autos de resistência” (expressão utilizada por agentes de segurança que alegam defesa ao matar um suspeito). Download aqui

Durante a audiência, os debatedores colocaram em destaque a possível conivência dos operadores do Direito ao lidarem com a questão. - Créditos: Cristiane Sampaio / Brasil de Fato

Durante a audiência, os debatedores colocaram em destaque a possível conivência dos operadores do Direito ao lidarem com a questão. Foto: Cristiane Sampaio / Brasil de Fato

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CPI do Assassinato de Jovens apresenta relatório final na quarta-feira

Redação da Agência Senado

O relatório final da CPI do Assassinato de Jovens será apresentado nesta quarta-feira (8) com a conclusão de quase um ano de trabalho para identificar as origens da violência contra os jovens e indicar as ações necessárias para reverter esse quadro.  A comissão, instalada em maio de 2015, ouviu mais de 200 pessoas em 29 audiências públicas em vários estados. De acordo com dados apurados pelo colegiado, o homicídio continua sendo a principal causa de morte de jovens negros, pobres, moradores da periferia dos grandes centros urbanos e, mais recentemente, também do interior do país. 

‘Se caísse um avião cheio de jovens a cada dois dias, as pessoas se sensibilizariam?’

Por Brasil Post
Ninguém bate o Brasil quando o assunto envolve o número absoluto de homicídios ao ano. São mais de 56 mil assassinatos, dos quais 30 mil envolvendo jovens. O índice envolvendo a juventude fica ainda pior quando analisado sob o viés étnico: 77% dos jovens vítimas de homicídios são negros, dos quais mais de 90% do sexo masculino. Se só os dados não forem suficientes, aqui vai uma chocante – e bastante realista – metáfora:

“É como se a cada dois dias caísse um avião cheio de jovens. No entanto, como você não vê esse avião caindo, essa morte pulverizada, e os homicídios acontecem no Brasil inteiro. Então isso não parece ser uma tragédia aos olhos do público em geral. Você não vê no noticiário, não vê a sensibilização das pessoas. Se fosse um avião cheio de jovens, talvez você ficasse chocado porque aquilo estaria condensado em um único momento”.

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Brasil mata mais jovens negros da periferia

Por Brasil 247

Segundo dados do Mapa da Violência de 2014, a principal vítima é a juventude pobre e de baixa escolaridade; os homicídios de pessoas na faixa entre 15 e 29 anos de idade custaram ao Brasil cerca de R$ 88 bilhões em perdas no ano passado, ou 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB), mais que os R$ 82 bilhões estimados em 2013, conforme cálculo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

De acordo com o Mapa da Violência de 2014, a principal vítima de homicídios no Brasil é a juventude pobre e de baixa escolaridade. Entre 2002 e 2012 o número de homicídios de jovens brancos caiu 32,3%, enquanto a quantidade de jovens negros assassinados subiu 32,4%. Eles morrem no meio da rua, atingidos por disparo de armas de fogo, entre 20h e meia noite, nos fins de semana.

Os homicídios de pessoas na faixa entre 15 e 29 anos de idade custaram ao Brasil cerca de R$ 88 bilhões em perdas no ano passado, ou 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB), mais que os R$ 82 bilhões estimados em 2013, conforme cálculo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Leia aqui reportagem de Ligia Guimarães sobre o assunto, no Jornal O Valor Econômico.

Enfrentar a violência contra a Juventude precisa ser a agenda prioritária em 2015 para o Governo Federal

O Brasil é o pais, que hoje, segundo dados do relatório sobre prevenção global da violência 2014 da ONU, é responsável por 10% de todos os homicídios do mundo,  e dentro das Américas é o país que mais contribuiu para que estes territórios sejam o primeiro no ranking mundial referente a questão. Segundo este relatório, o Brasil entre os 133 país pesquisados pela ONU, é o que tem o maior número de morte de jovens, em especial do sexo masculino, informações que acreditamos não seja algo novo para governo brasileiro, pois todas as informações que constituíram o relatório sobre prevenção global da violência 2014, foram concedidas pelos governos e conferidas por pesquisadores autônomos da ONU.

Cotas na UFBA - Correio Nagô

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Genocídio no Brasil, um Estado que mata e deixa morrer

Adolescente negro decidiu estudar para entender por que seus amigos de infância estavam desaparecendo. Aos 17 anos, morador de Poá, na Grande São Paulo, inventa formas de fugir das estatísticas

Cassiano* percebeu que havia algo de estranho quando seus amigos começaram a desaparecer. A vida seguia normal no afastado bairro Cidade Kemel, em Poá (SP), mas de repente as conversas na rua ficaram escassas e o campinho de várzea esvaziou. Aos 17 anos, o estudante inventa formas de fugir das estatísticas. Negro e morador de um bairro marcado por altos índices de violência, ele sabe que já é um sobrevivente.